Carl Jung.
Mary Isabella Grant (1830 - 1854) Knitting a Shawl. |
Em termos metafóricos, são os deuses olímpicos que dispõe sobre nossas vidas privadas e a história dos homens, ou seja, a vida na coletividade. Para a psicologia analítica os deuses são padrões arquetípicos e seus mitos contam e recontam as maneiras que encontramos para lidar com as situações de vida, amor e morte ao longo dos milênios. A mitologia é uma sabedoria coletiva que nos rege, é uma fonte de riqueza e, ao mesmo tempo, de perdição, tal qual a relação que tenhamos com suas imagens. Contactar os deuses mais importantes para nossa personalidade, aqueles que se assemelham ou aqueles a quem temos aversão, nos ajudará a integrar diferentes aspectos de nós mesmos e produzir um "tapete" mais rico.
Há algo, porém, que não pode ser esquecido: na mitologia, quem era responsável por tecer o destino dos homens e, em última instância, quem tecia o destino dos deuses? As Moiras, também chamadas de Parcas em Roma. Elas são três irmãs que determinavam o destino dos deuses e dos homens, utilizando a roda da fortuna como tear. Cloto, era responsável pelo fio da vida, nascimentos, partos; Láquesis, "sorteava", puxava e enrolava o fio da vida, referindo-se ao quinhão de cada um; Átropos era quem cortava o fio, referindo-se a morte. Nem a Zeus era permitido transgredir essa disposição sem alterar a ordem cósmica. Isso nos fala que no amor, na vida e na morte, há "algo" que vem de um lugar além da nossa arcada. São nossas heranças coletivas e familiares mais arcaicas.
Mas então, tendo encontrado isso na vida, qual o nosso papel nessa tecitura? Aí entra o fio de Ariadne. Para quem não conhece o mito de Ariadne, aí vai um trecho:
Teseu, um jovem herói ateniense, sabendo que a sua cidade deveria pagar a Creta um tributo anual, sete rapazes e sete moças, para serem entregues ao insaciável Minotauro que se alimentava de carne humana, solicitou ser incluído entre eles. Em Creta, encontrando-se com Ariadne, a filha do rei Minos, recebeu dela um novelo que deveria desenrolar ao entrar no labirinto, onde o Minotauro vivia encerrado, para encontrar a saída. Teseu adentrou o labirinto, matou o Minotauro e, com a ajuda do fio que desenrolara, encontrou o caminho de volta.
Os labirintos são caminhos e encruzilhadas pelos quais nossa vida se delinea, difíceis de compreender, muitas vezes vistos como sem saída, aprisionadores, são construídos de forma intrincada de forma que não se percebe a ideia do todo. No entanto, é possível encontrar o seu segredo, é possível que seus cantos sejam reconhecidos e o todo seja integrado a consciência. Para isso, é importante que possamos desenrolar o fio para nos conduzir por esse percurso, mapeando nossas oportunidades, disponibilidades e limitações. É uma jornada não linear, que abre possibilidade para novas leituras da vida, soluções que não enxergamos a priori, mas que podem transformar nosso caminho e desvendar o segredo do nosso "destino": matar o monstro e encontrar a saída do labirinto. Fazer o caminho com o fio de Ariadne em mãos é saber que sempre será possível passar pelo mesmo "lugar", mas de maneira diferente, com uma compreensão e clareza da nossa situação ali. É criar novas histórias ou abordar um mesmo tema sob outro enfoque.
Carl G. Jung, no seu Livro Vermelho, escreveu:
Ai daqueles que vivem por meio de exemplos! A vida não está com eles. Se você vive de acordo com um exemplo, assim, você vive a vida desse exemplo, mas quem deve viver sua própria vida, se não você mesmo? Então viva a si mesmo. As placas de direção caíram, trilhas sem brilho estão diante de nós. Não seja ganancioso para devorar os frutos dos campos estrangeiros.
Encontre seu próprio caminho, experimente os novos salões que se abrem nesse labirinto que é a sua vida, lembrando que para não se perder é importante compreender o todo, segurar o fio e encontrar a saída. Não tenha medo do escuro e da encruzilhada, pois uma hora a roda da fortuna estará pra cima e outra hora pra baixo, e assim por diante, até o final dos tempos. Não há nada tão ruim que não leve a uma boa fortuna, nem nada tão bom que não precise de uma transformação através da sombra. O destino é, no final das contas, o que você não confrontar e integrar em sua própria consciência.