segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Quatro momentos da psicoterapia: primeira fase, "confissão".


Os quatro "momentos" de uma psicoterapia segundo Carl Gustav Jung passam por "confissão", "esclarecimento", "educação" e "transformação". Pensando nesses momentos em termos teóricos, poderíamos dizer que a psicoterapia junguiana congrega as 3 principais correntes da psicologia, além dela própria, no decorrer do processo de análise.

A primeira fase é a confissão. Pense nisso da seguinte maneira: a premissa é a de corrigir distorções e percepções equivocadas do mundo. É como aquela citação de Henry Ford "Se você pensa que consegue ou pensa que não consegue, em ambos os casos está certo". Ou seja, é primordial escutar o que incomoda o analisando, seu "segredo" e trabalhar com ele na tentativa de que ele veja outras perspectivas.



Jung diz, em seu célebre livro A Prática da Psicoterapia, que: "No momento em que o espírito humano conseguiu inventar a ideia do pecado, surgiu a parte oculta do psiquismo; em linguagem analítica: a coisa recalcada. O que é oculto é segredo. O possuir um segredo tem o mesmo efeito do veneno, de um veneno psíquico que torna o portador do segredo estranho à comunidade. Mas esse veneno em pequenas doses, pode ser um medicamento preciosíssimo, e até uma condição prévia indispensável a qualquer diferenciação individual". O que o criador da psicologia analítica quer dizer com isso?

Jung está falando da primeira etapa do processo analítico, que é a confissão, compartilhar o segredo, ele cita, para melhor ilustrar, a necessidade da criação dos mistérios em várias sociedades ao longo da história. Podemos entender citando as sociedades secretas como a maçonaria, as confissões perante o padre, e mesmo uma sociedade como a daquele filme O Clube da Luta com Brad Pitt e Edward Norton, todos são momentos de criação de um "mistério", um "segredo" compartilhado e que de certa maneira funciona positivamente - senão terapeuticamente. 

Isso se dá porque possuindo o "mistério" o homem se protege contra a absorção pura e simples do seu segredo pela sociedade, e consegue se diferenciar da massa. Daí Jung diz que um segredo partilhado com diversas pessoas é tão construtivo, quanto destrutivo é o segredo estritamente pessoal, porque o segredo pessoal tem o mesmo efeito da culpa.

Tenhamos em mente que quando se tem "consciência daquilo que se oculta" o prejuízo é evidentemente menor, menor do que quando não se sabe que se está recalcando ou "o que" se recalca. Isso ocorre porque o segredo fica oculto até perante si mesmo, separa-se da consciência e forma o complexo. Lembra quando dizemos por aí? "Esse aí tem complexo de inferioridade"? Pois é, esse é só um tipo de complexo dos que se pode ter... O complexo opera com autonomia, não é perturbado pelas correções do nosso consciente, porque ignoramos a existência dele.

Khlalil Gibran disse certa vez: "Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim: (...) encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós". O que o poeta diz é completamente complacente com a existência do segredo e o paulatino "esquecimento" dele, transformando-o em complexo fácil, fácil. Ele fica, no final, aprisionado pelo complexo. O poeta era realmente louco? Não, pois através da própria poesia compartilhou seu segredo conosco.

Diz Jung: "Segredo e contenção são danos, aos quais a natureza reage, finalmente, por meio da doença. Entenda-se bem: são danosos somente quando o segredo e a contenção são de ordem exclusivamente pessoal. Se praticados conjuntamente com outros, a natureza se dá por satisfeita, e podem até ser benéficas virtudes. Apenas a contenção pessoal é nociva.

Só essa mudança já vai melhorar muito seu problema. E vai resolver? Sim, mas a curto prazo, pois outras situações vão surgir na sua vida e que novamente vão provocar conflitos já que, por exemplo: uma solução pra sua necessidade de fumar (que foi o problema que você veio resolver), não vai funcionar da mesma forma pra sua atitude agressiva no relacionamento. É necessário passar pra outra fase da análise.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O que esperar de uma análise?

Entrar em análise é um ato de bravura, humildade e, por si só, um sinal de amadurecimento psíquico. 

O resultado, no entanto, recompensa: a saúde e bem-estar global que sempre almejamos encontrar tornam-se mais próximos. O processo analítico junguiano, quando conduzido em longo termo, pode ajudar no encontro do que muitos chamam de "sentido de vida". São expectativas altas, mas que só poderão ser alcançadas por aquele analisando que se colocar genuinamente em processo. É necessário encarar seus monstros, admitir a existência daquele lado que você mesmo rejeita por tão sombrio que parece ser, dar-se conta de velhos padrões de comportamento enrijecidos pelo ego e já costumeiros no seu relacionamento interpessoal e ter a coragem de decidir se desenvolver em meio a tantos entraves e dificuldades. 

O inconsciente não é apenas um repositório de conflitos, ele carrega sementes de desenvolvimento psicológico que vão florescer, são nossos potenciais psíquicos. Ao contrário de algumas correntes que buscam esmiuçar conflitos neuróticos mal resolvidos, o processo de análise junguiana preza pelo bom relacionamento entre inconsciente e consciente, é quase como um casamento: "Uma pessoa vem para a análise porque o relacionamento entre o seu consciente e o seu inconsciente está desconfortável", diz Roderick Peters, analista junguiano sediado em LondresOs analistas junguianos trabalham com a ideia de que não há necessidade de interpretação, mas sim de mediar esse encontro. 

Um ego super inflado, numa postura de super poderoso, grandioso, pretensiosamente dono de si, pode dificultar esse processo de trazer  a luz o "si mesmo". Essa tarefa tão delicada demanda, de acordo com Jung, "uma profunda deflação egóica" e todos sabemos que essa não é tarefa fácil. Um ego em "deflação" é um ego que se apresenta sem a sua dura couraça, ao menos durante a sessão da análise, sem a qual o indivíduo permite olhar-se com honestidade. Dessa forma, durante um processo analítico de longo termo, teremos sucesso quando conseguirmos deslocar o centro da nossa personalidade do ego para um centro maior do que nós mesmos. O aspecto doloroso dessa jornada é um preço baixo que se paga para a mudança positiva que ocorre no seu bem-estar físico e psíquico.

Para finalizar, retomando o que foi dito ao início, deixo um dado importante para aumentar a segurança e o conforto daqueles que fazem ou pensam fazer uma psicoterapia analítica. De acordo com o professor de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Liverpool, PhD. Andrew Derrington, pesquisas financiadas por seguradoras na Alemanha, Áustria e Suíça demonstraram que pessoas que fazem psicoterapias de longo termo - como a análise Junguiana - tem custos médicos mais baixos durante suas vidas. Um bom incentivo pra investir na sua saúde global!