terça-feira, 25 de setembro de 2012

Trabalho, obra, opus.

Hoje faço algumas considerações sobre a composição de João Nogueira, "Canto do Trabalhador". Com versão de Casuarina:




Vamos trabalhar sem fazer alarde
Pra pisar com força o chão da cidade
A vida não tem segredo
Quem sentado espera a morte é covarde
Mas quem faz a sorte é que é de verdade
É só acordar mais cedo
É só regar, pra alimentar o arvoredo
Por essa luta eu não retrocedo
Pra ver toda a mocidade
Com os frutos da liberdade
Escorrendo de entre os dedos
Que é pra enterrar de uma vez seus medos
Se não mudar, o barco bate no rochedo
E vai pro fundo como um brinquedo
É bom cantar a verdade
Pro povo de uma cidade
E deixar de arremedo
E aí vai virar mais um samba-enredo.


Alguns, com essa música, sentem-se tocados pela mensagem de transformação através do trabalho, que foi o caso de quem me apresentou esse vídeo. Ainda assim, não é difícil adivinhar que "alguns muitos" outros vejam somente uma licença poética para falar de uma realidade (trabalho) que lhes parece torturante. Como entender a aversão ao tema? A própria origem da palavra trabalho vem do latim tripalium que, assustadoramente, era um instrumento de tortura. Mitologicamente falando nunca esqueceremos que Adão foi expulso do paraíso e como castigo lhe adveio a ordem para... trabalhar! "Do suor do teu rosto, comerás o teu pão", disse Deus a Adão no antigo testamento bíblico. Assim, ainda que o significado de exercício, atividade, labuta tenha se adjuntado ao seu nome, o trabalho nunca perdeu -ao menos não para nossa sociedade judaico-cristã, uma conotação, digamos, incômoda.

Aproveitando a necessidade constante de repensar a prática no consultório e, portanto, o meu trabalho, relembro a frase de Carl Jung em sua obra Psicologia do Inconsciente que dizia: "Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro". Além de se aplicar as questões de relacionamento, como mencionei no artigo "Quando o ciúme é doentio", essa frase se encaixa como uma luva nas questões relativas ao trabalho. Afinal, como gostar de um momento em que julgamos estar sendo torturados ou que tem a sombra do castigo pairando sobre ele? A resposta é simples, não é possível. Esse significado está entranhado da necessidade de sofrimento para aquisição de poder e não passa nem perto da noção de amor e vocação que nossas atividades cotidianas nos exigem para nosso bem-estar.

Não pode faltar amor na atividade laboral. Difícil? O trabalho não deve padecer sob o império do poder, nem deve ser governado por ele. Ainda que o dinheiro, reconhecimento e status sejam parte do que nos motiva para o exercício laboral,  tenhamos em conta: no trabalho não pode faltar amor e é ele, sobretudo, que deve guiar o nosso labor diário. Para finalizar, quero lembrar a todos que o trabalho é a nossa obra, é o opus da nossa existência. Essa sim, é uma palavra com conotação preciosa que gostaria de compartilhar: esforço, atenção, cuidado. Sigamos perpetuando esse significado em nossas almas.


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