Todos sabemos que negligenciar a saúde mental tem sido uma prática da nossa sociedade. Essa negligência está presente há muito tempo mundialmente, em diversas classes sociais. Saúde mental e - consequentemente - depressão, é um assunto tabu em muitas famílias da nossa era, como foi o câncer alguns anos atrás, e que acaba virando segredo familiar. Em uma pesquisa recente, a Dra. Gro Harlem Brundtland apontou que quanto maior o faz-de-contas ou a postura individual de ignorar o estresse emocional, maior será a probabilidade desse mesmo indivíduo ser afetado por uma psicopatologia.
Sabendo disso, que tal nos informarmos e buscarmos ajuda profissional sobre o tema? Há muito material a respeito da depressão, são inúmeros livros e revistas que tratam desse assunto, a maioria deles sempre enfatizando o ponto de vista fisiológico. Mas é bom lembrar a todos que quando o assunto é a psique criativa a visão puramente fisiológica não é suficiente. Nós somos mais do que matéria, somos também psique, que em grego significa alma.
Partilho da visão junguiana, que entende que corpo e psique estão bastante conectados e fechados entre si para encontrar em um mesmo sintoma a doença e a cura. O que quero dizer com isso ao leitor é que esse mal-estar da alma humana encontra respostas às suas dores em si mesmo. Podemos ser resgatados do que nos aflige através do que nos aflige. Parece compreensível que para acontecer a transformação psíquica - que poderíamos chamar também de "maturidade" - em um nível mais elaborado, um chamado precisa ser feito desde os níveis mais profundos da psique, que se não for atendido voluntariamente vai acabar aparecendo através de um sintoma.
A depressão, como uma perspectiva da Alma, vem atender a esse chamado. Em outras palavras, está a cargo da Alma (Psique) a "descida aos infernos para a posterior redenção":
A alma volta constantemente às suas feridas para extrair delas novos significados; volta em busca de uma experiência renovada. Ficamos familiarizados com nossos complexos e nosso sofrimento. O ego, identificado com o arquétipo do herói, chama a repetição de neurose. Mas na repetição, na circularidade, o ego é forçado a conscientizar-se de que há uma outra força governando a coisa toda. Na repetição o ego é forçado a servir à psique. Há um aspecto ritual aqui, uma humilhação. A circularidade, por fim, nos personaliza. Do ponto de vista da alma, a repetição é uma maneira de nos tornarmos aquilo que somos (BARCELLOS, 1991).
Deprimir, "profundar" segundo o dicionário Aurélio quer dizer: "Tornar fundo ou mais fundo; escavar; pesquisar, perquirir, entender, ou compreender perfeitamente, penetrar". Dito isto, lembramos novamente que a tendência do ser-humano é o crescimento e a universalização e que um dia alcançaremos seres e condições que parecem distantes, mas que para isso precisamos primeiro conquistar a nós mesmos.
Para finalizar, tenhamos em mente que a depressão é uma oportunidade de transformação e que também é uma resposta da nossa alma a tanta superficialidade e "mania de grandeza" que pode estar governando você. O aprofundamento em si mesmo através da depressão é uma tentativa de auto-cura. Encontra-se aqui a importância da psicoterapia como facilitadora do reencontro do paciente em depressão com o significado perdido, de efeito transformador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário