terça-feira, 15 de maio de 2012

Relacionamentos

Falta menos de um mês para o dia dos namorados e é com esse espírito que vou direcionar o tema de hoje para o relacionamento de casal. Falar sobre o amor nos provoca certa comoção, já que a imagem ideal do "amor romântico" nos cobra um roteiro que deveríamos cumprir na vida. É então que começamos a questionar se estamos no caminho certo. Para ajudar o leitor a responder essa questão e transitar mais tranqüilamente por essa área da vida, proponho algumas reflexões.

Bem, para começar cabe lembrar que ensinados por nossa cultura, costumamos escutar que amar é sofrer, que amor rima com dor, que para mantermos uma relação estável devemos nos resignar a viver uma experiência dolorosa. Seria a renúncia suprema por um sentimento supremo. Mas afinal de contas, para nosso próprio bem-estar, o que realmente deveria ser considerado na hora que miramos nossas relações? Amar é mesmo sofrer?

Não nos faltam exemplos em filmes e músicas, dos mais antigos aos mais atuais, de modelos ideais de relacionamento. O dito amor romântico é como um guarda-chuva sob o qual cabem conceitos bem distintos uns dos outros: sexo, sentimento, desejo, status social e inclusive o casamento. No entanto, cabe aqui separar as coisas, para uni-las logo mais. Devemos ter muito cuidado ao comprar o que diz o comércio, certas revistas e programas de televisão. Estar em uma relação de casal esperando que todas as áreas da sua vida sejam resolvidas num passe de mágica e abrindo mão de sua individualidade pode levar você a situações aterradoras.

O amor como o sentimento universal e inquestionável quase torna-se sinônimo dessa idéia: sofrer por amor é inevitável e é um ato heróico. Ainda que pareça estranho dizer isso, devo alertar aos navegantes que para amar alguém e ser amado ninguém deveria abrir mão de sua autonomia, nem de ser feliz. Como diria Walter Riso, psicólogo ítalo-argentino:

"(...) esquecemos de algo elementar: nem todos os tipos de afeto (assim como nem todos os tipos de pessoas) convêm ao nosso bem-estar".

Há uma idéia ardilosa nesse conceito tão estendido, tão amplo de casal e de amor em todas as suas vertentes e variedades que nos impede de ser pessoas mais completas, mais inteiras. Como explicar isso? É que em nome do amor muitas vezes perdemos nossa individualidade e vivemos em um cotidiano de dependência e renúncia pessoal. Assim, na sociedade O casal acaba sendo o protagonista em detrimento dos dois seres humanos que estão ali dentro suando a camisa para a coisa toda acontecer. Esse relacionamento acaba ganhando conotação de propriedade privada e as coisas vão ficando cada vez mais complicadas: "se você não for minha, não vai ser de mais ninguém", dizem os autores de violência contra a mulher quase sempre embalados por motivos passionais. Além deste, temos muitos outros problemas decorrentes desse ideal de casal e de amor: depressões, tentativas de suicídio, baixa auto-estima, isolamento social, etc.

É importante ter em mente que nossos corpos e nossas vidas não devem ser atribuídos a um roteiro preestabelecido. Podemos sim ter relações mais saudáveis, com um sentimento de amor que contenha o cuidado, o respeito e o amor-próprio, mas para isso devemos dar um passo na direção de relacionamentos e pessoas que nos façam mais felizes, com menos dependência de algo socialmente criado e em consonância com nosso bem-estar. Para que consigamos esse resultado, podemos começar revisando  nossa vida amorosa e nossas próprias escolhas. Vamos tomar essa tarefa como meta, para um dia dos namorados mais feliz para todos!


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