quarta-feira, 27 de junho de 2012

Quando o ciúme é doentio?



Todos um dia já sentimos ciúmes, ele faz parte da categoria de emoções humanas e não é considerado patológico (doentio) por si só. Para quem quer entender um pouco mais sobre esse tema, deve ter em mente que o ciúme seria uma emoção um pouco mais refinada que o medo, sem deixar de ser tampouco um "afeto de proteção". Prosseguindo nessa abordagem, é importante lembrar que, por outro lado, a relação entre o ciúme romântico e a violência é reconhecida pelos estudos psicossociais e jurídicos, a ponto destes últimos utilizarem o termo "passional" para qualificar crimes e ajudar a regular situações e proteger as pessoas.

Aqui entra a pergunta: qual fator seria determinante para considerar o ciúme como patológico ou não? Bem, sem entrar no mérito da psiquiatria, o fator sócio-cultural tem um peso incontestável, já que é esse fator que dá a medida do modelo ideal de relação. Por exemplo, há uma óbvia diferença entre o modelo de relação afetiva de outras culturas onde a religião e a lei permitem a poligamia, ou ainda, as culturas onde o modelo de relação é o de uma mulher que dedica toda a sua vida ao marido e ao casamento. Essa variável não pode ser esquecida na hora de compreender as relações de casal.

Um exemplo de mulher "ciumenta" estava na mitologia grega, a deusa Hera passou "a vida" tentando descobrir as deusas, semi-deusas e mortais com as quais o seu marido Zeus (entidade máxima do Olimpo) tinha casos. Desenvolveu estratégias e artimanhas para punir tais mulheres e mesmo os frutos dessas traições, filhos bastardos de Zeus que mais tarde se juntaram aos demais no Olimpo. Outro exemplo da mitologia, que não é descrito como ciúme, mas que não deixa de ser violento e um zelo além do normal, é do deus Hades que raptou a donzela amada e a manteve cativa em seu reino subterrâneo, sem contato nenhum com o mundo do qual ela veio. Somente pela intercessão da sua mãe junto a Zeus, Perséfone pôde visitar a superfície três meses a cada ano. 

Para finalizar essa introdução ao tema, não perca de vista que o ciúme existe a milênios e está baseado em concepções de certo e errado que nos são ensinadas pelos outros.  Por tanto, não se culpe por esse sentimento, mas lembre que quando a situação chegar ao ponto que o seu "ideal de relação" não corresponder mais a complexidade que é uma relação humana, pode significar que esse ciúme está desmedido e acabará por prejudicar o casal. Sobretudo, jamais deixe esse sentimento tomar conta e sobrepor a individualidade da pessoa que você ama. Como diz a analista junguiana Elizabeth C. C. Mello, "O contrário de amor é o poder, e não o ódio. Poder que aparece em pequenas manobras, nas tentativas de controlar o outro -a nós mesmos- e os sentimentos interpessoais"A meta é preservar a liberdade e a confiança mútua.


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