Pode ser que esse post pareça um pouco mais científico que os outros. Pode ser, também, que não tenham curiosidade ou interesse em saber como Jung define o inconsciente. No entanto, asseguro a todos que compreender esse conceito ajuda e muito a entender a nossa necessidade de mitos, ritos, contos e, em última instância, da religião.
Assim, dando continuidade as premissas junguianas sobre a Psique, detalho agora um pouco de como seria visto o "inconsciente" pelo analista junguiano. A curiosidade sobre esse conceito, já começa quando sabemos que foi um dos principais motivos do rompimento entre Jung e Freud - este jamais admitiu que o inconsciente pudesse ser algo além de um depósito de lembranças reprimidas, enquanto Jung afirmava que o inconsciente é muito mais.
“Quando
dizemos ‘inconsciente’ o que queremos sugerir é uma idéia a respeito de alguma
coisa, mas o que conseguimos é apenas exprimir nossa ignorância a respeito de
sua natureza... Há apenas provas indiretas sobre a existência de uma esfera
mental de ordem sublime. Temos muito pouca justificação científica que prove em
última instância sua existência. A partir dos produtos desse ‘eu’ inconsciente
podemos tirar determinadas conclusões quanto a sua possível existência.
Entretanto, todo cuidado será pouco para não cairmos num antropomorfismo
exagerado, pois os fatos, em sua realidade, podem ser bastante diferentes da
imagem que a nossa consciência forma deles (JUNG, 1999)”.
Burning Heaven - Julie Heffernan, 2011. |
Nesta afirmação Jung denota o
caráter realista de sua idéia a
respeito do inconsciente como uma existência universal anterior a tudo. Sabe-se que,
para o realismo, o universal transcende o particular, ou seja, não depende da
subjetividade humana para a sua existência. Isso não anula o que falei no post Psique no Templo, e sim o complementa. Jung considera o inconsciente como
uma instância real e primeira, que, segundo alega, jamais será plenamente
apreendida pela consciência - visto que esta última também deriva do
inconsciente.
Segundo Jung, a
existência do inconsciente não se comprova pela observação direta, a medição, etc., métodos estes atrelados aos sentidos, em
si limitados. Os sentidos permitem a formação de idéias que podem ser diferentes dos fatos reais. O inconsciente para Jung é a realidade a priori; são, esses sim, os fatos reais.
O céu está dentro de você, diria Jung e também o diria a religião. A astrologia nos dá um exemplo dessa afirmação ao explicar como os planetas, casas, signos e aspectos do céu no momento do seu nascimento indicarão a maneira habitual ou inconsciente de a pessoa reagir às coisas, podendo até mesmo mostrar os modos prováveis de nossa experiência. O que está dentro de você é o que vai se manifestar do lado de fora. A experiência é unitiva e pensar sobre ela, apenas fragmenta. Para os mais ortodoxos, o próprio Cristo disse que o "reino dos céus está dentro de nós".
Utilizei a obra de arte de Julie Heffernan "Burning Heaven" para ilustrar esse post, pois o Céu em Chamas, em tradução livre, fala da tentativa de humanizar o céu. Vejam o lustre - produção humana - pendendo do teto, o ponto mais alto, de uma pintura celestial, sublime. O lustre é como a teoria tentando iluminar e traduzir o inconsciente. Não é a toa que Jung diz que a cura só virá com uma experiência religiosa, no sentido de re-ligar o indivíduo a sua realidade primeira, jamais com a técnica interpretativa.
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