“Se,
na qualidade de psicoterapeuta, eu me sentir como autoridade diante do
paciente, e, como médico, tiver a pretensão de saber algo sobre a sua
individualidade e fazer afirmações válidas a seu respeito, estarei demonstrando
falta de espírito crítico, pois não estarei reconhecendo que não tenho
condições de julgar a totalidade da personalidade que está lá a minha frente
(JUNG, 2004)”.
'Psyche in the Temple of Love' by Edward John Poynter, 1882. |
No
momento em que Jung afirma que o psicoterapeuta não tem condições de julgar a
totalidade da personalidade de seu paciente, está considerando o caráter único do indivíduo, pois essa
ausência de condições reflete a ausência de "regra geral" quando falamos sobre o indivíduo. Costumo dizer aos meus pacientes que não há receita de bolo, ou seja, a idiossincrasia do ser humano é presença certa em qualquer afirmação
que possa ser feita a respeito dele. Porém, ao mesmo tempo, não devemos invalidar a existência de alguma
generalidade.
Em um momento posterior do mesmo parágrafo, Jung
completa o raciocínio com a seguinte afirmação: “Posso fazer declarações
legítimas apenas a respeito do ser humano genérico, ou pelo menos relativamente
genérico. Mas como tudo que vive só é encontrado na forma individual, e visto
que só posso afirmar sobre a individualidade de outrem, o que encontro em minha
própria individualidade, corro o risco, ou de violentar, ou de sucumbir por
minha vez ao seu poder de persuasão”.
Por esse motivo, escolhi a obra de arte acima para ilustrar esse texto, "Psyche in the Temple of Love" significa "Psique no Templo do Amor" em tradução livre. E a que templo eu estaria me referindo senão ao espaço sagrado da psicoterapia, onde os segredos e dores que afligem o ser humano são compartilhados e re-vividos? É importantíssima a consciência de que não há teoria suficiente na humanidade para levar um processo psicoterápico ao sucesso, se não houver a experiência vivida pelo analista (quanto mais, melhor) para balisar seu olhar sobre o outro! A relação é dialógica e depende, na mesma medida, daquele que revela a sua psique e daquele que consegue vivencia-la em si mesmo.
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