sábado, 8 de dezembro de 2012

Psique no templo.


     “Se, na qualidade de psicoterapeuta, eu me sentir como autoridade diante do paciente, e, como médico, tiver a pretensão de saber algo sobre a sua individualidade e fazer afirmações válidas a seu respeito, estarei demonstrando falta de espírito crítico, pois não estarei reconhecendo que não tenho condições de julgar a totalidade da personalidade que está lá a minha frente (JUNG, 2004)”.

'Psyche in the Temple of Love' by Edward John Poynter, 1882. 

No momento em que Jung afirma que o psicoterapeuta não tem condições de julgar a totalidade da personalidade de seu paciente, está considerando o caráter único do indivíduo, pois essa ausência de condições reflete a ausência de "regra geral" quando falamos sobre o indivíduo. Costumo dizer aos meus pacientes que não há receita de bolo, ou seja, a idiossincrasia do ser humano é presença certa em qualquer afirmação que possa ser feita a respeito dele. Porém, ao mesmo tempo, não devemos invalidar a existência de alguma generalidade. 

Em um momento posterior do mesmo parágrafo, Jung completa o raciocínio com a seguinte afirmação: “Posso fazer declarações legítimas apenas a respeito do ser humano genérico, ou pelo menos relativamente genérico. Mas como tudo que vive só é encontrado na forma individual, e visto que só posso afirmar sobre a individualidade de outrem, o que encontro em minha própria individualidade, corro o risco, ou de violentar, ou de sucumbir por minha vez ao seu poder de persuasão”.

Por esse motivo, escolhi a obra de arte acima para ilustrar esse texto, "Psyche in the Temple of Love" significa "Psique no Templo do Amor" em tradução livre. E a que templo eu estaria me referindo senão ao espaço sagrado da psicoterapia, onde os segredos e dores que afligem o ser humano são compartilhados e re-vividos? É importantíssima a consciência de que não há teoria suficiente na humanidade para levar um processo psicoterápico ao sucesso, se não houver a experiência vivida pelo analista (quanto mais, melhor) para balisar seu olhar sobre o outro! A relação é dialógica e depende, na mesma medida, daquele que revela a sua psique e daquele que consegue vivencia-la em si mesmo.

  

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